sexta-feira, 8 de abril de 2022

Padrão vs. não-padrão

 Português forense : língua portuguesa para curso de direito / João Bosco Medeiros, Carolina Tomasi.  8. ed.  São Paulo : Atlas, 2016, p. 20:

"Segundo Tarallo (1994, p. 8), “em toda comunidade são frequentes as formas linguísticas em variação”. A essas formas em variação dá-se o nome de variedades.

As variedades de uma comunidade de fala estão sempre em relação de concorrência:

Padrão vs. não padrão; conservadoras vs. inovadoras; de prestígio vs. estigmatizadas. Em geral, a variante considerada padrão é, ao mesmo tempo, conservadora e aquela que goza de prestígio sociolinguístico na comunidade. As variantes inovadoras, por outro lado, são quase sempre não padrão e estigmatizadas pelos membros da comunidade. Por exemplo, no caso da marcação de plural no português do Brasil, a variante [s] é padrão, conservadora e de prestígio; a variante [0], por outro lado, é inovadora, estigmatizada e não padrão (TARALLO, 1994, p. 12).

Duas são, portanto, as variedades fundamentais: a língua-padrão em oposição à língua não padrão. Em relação à primeira, impera um conservadorismo injustificável do ponto de vista da ciência linguística. Um ideário elitista e excludente sobre língua, norma, gramática, variação e mudança domina o cenário nacional (mídia, sala de professores, sala de aula, reunião de professores, bem como conversa sobre língua em qualquer instância social). Para Zilles (In: FARACO, 2009, p. 10-11):

Há, ainda, muito trabalho analítico e político a fazer diante dessa postura muito discutível, que privilegia uma variedade de língua sobre as demais, sem levar em conta se esta variedade representa uma escolha adequada pra a sociedade brasileira como um todo, e não apenas para a classe dominante. O ônus dessa postura está também em estigmatizar os falantes que não dominam essa variedade e impô-la como língua legítima da escola, entre outras violências simbólicas.

A introdução desses temas sociolinguísticos tem provocado discussões acaloradas, particularmente na mídia (impressa e eletrônica). Os mais conservadores acusam os professores linguistas de desleixarem no ensino da língua “culta”, mas, em geral, não atentam para duas realidades distintas: as variedades “cultas” (designadas pela expressão genérica norma “culta”) e a norma-padrão."

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