Português forense : língua portuguesa para curso de direito / João Bosco Medeiros, Carolina Tomasi. – 8. ed. – São Paulo : Atlas, 2016, p. 20:
"Segundo Tarallo (1994, p. 8),
“em toda comunidade são frequentes as formas linguísticas em variação”. A essas formas em variação
dá-se o nome de variedades.
As variedades de uma comunidade de fala estão sempre em relação de concorrência:
Padrão
vs. não padrão; conservadoras vs. inovadoras; de prestígio vs. estigmatizadas.
Em geral, a variante considerada padrão
é, ao mesmo tempo, conservadora e aquela que goza de prestígio sociolinguístico
na comunidade. As variantes inovadoras,
por outro lado, são quase sempre não padrão e estigmatizadas pelos membros da
comunidade. Por exemplo, no caso da
marcação de plural no português do Brasil, a variante [s] é padrão,
conservadora e de prestígio; a variante [0], por outro lado, é inovadora, estigmatizada e não padrão (TARALLO, 1994, p. 12).
Duas são, portanto, as variedades fundamentais: a
língua-padrão em oposição à língua não padrão. Em relação à primeira, impera um
conservadorismo injustificável do ponto de vista da ciência linguística. Um ideário elitista e excludente sobre
língua, norma, gramática, variação e mudança domina o cenário nacional (mídia, sala de professores,
sala de aula, reunião de professores, bem como conversa sobre língua em qualquer instância
social). Para Zilles (In: FARACO, 2009, p. 10-11):
Há,
ainda, muito trabalho analítico e político a fazer diante dessa postura muito
discutível, que privilegia uma variedade de língua
sobre as demais, sem levar em conta se esta variedade representa uma escolha
adequada pra a sociedade brasileira como um todo, e não apenas para a
classe dominante. O ônus dessa postura está também em estigmatizar os falantes
que não dominam essa variedade
e impô-la como língua legítima
da escola, entre outras violências
simbólicas.
A introdução desses temas sociolinguísticos tem provocado
discussões acaloradas, particularmente na mídia (impressa e eletrônica). Os mais
conservadores acusam os professores linguistas de desleixarem no ensino da língua “culta”, mas, em
geral, não atentam para duas realidades distintas: as variedades “cultas”
(designadas pela expressão genérica norma “culta”) e a norma-padrão."
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