Português forense : língua portuguesa para curso de direito / João Bosco Medeiros, Carolina Tomasi. – 8. ed. – São Paulo : Atlas, 2016, p. 17-19:
"O Português Brasileiro é um sistema linguístico que abrange o conjunto das normas que se concretiza por meio dos atos individuais de fala. Ele é um dos sistemas linguísticos existentes dentro do conceito geral de língua e compreende variações diversas devidas a locais, fatores históricos e socioculturais, estilo, que levam à criação de variados modos de usar a língua.
Em 1500, a língua que aqui chegou não foi a língua literária de Gil Vicente, Camões, Fernão Lopes ou do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, mas a língua falada pelos colonizadores que iniciaram o povoamento do Brasil a partir de 1532, com a divisão do Brasil em 15 capitanias hereditárias. De início, pelas diferenças de língua que falavam e de interesses, portugueses e índios tiveram dificuldade de relacionamento. O interesse dos portugueses pelas novas terras, no entanto, só se concretizaria após 1550. A partir de 1590, os colonos começaram a substituir o trabalho escravo do índio pelo africano. Durante o primeiro século após o Descobrimento, nessa sociedade de brancos, índios e negros predominou a língua geral, não obstante os esforços da metrópole pelo uso do português. A LÍNGUA GERAL era um veículo de comunicação entre os nativos e os portugueses.
Após a segunda metade do século XVIII, a língua geral foi paulatinamente deixando de ser utilizada, assim como os dialetos falados pelos negros, e a língua portuguesa impôs-se. A língua geral foi proibida e obrigado o uso da língua portuguesa pelo Marquês de Pombal, em 3 de maio de 1757, em Portugal; em 17 de agosto de 1758, no Brasil. Outro fato que contribuiu para a difusão do português no Brasil foi a expulsão dos jesuítas (1759) de nosso solo. Eles eram os principais defensores da língua geral. Além disso, a língua portuguesa manteve seu prestígio mesmo durante o predomínio da língua geral, sobretudo nos contratos, nos atos administrativos, nos casamentos.
Ao final do século XVIII, o domínio da cultura dos brancos consolidou-se. Surgiram as Academias, de 1724 a 1758. No início do século XIX, a vinda da Família Real para o Brasil constituiu-se um fato relevante para a vida social e cultural do país.
Nesse tempo, o padrão lusitano foi tido como ideal linguístico, tanto na língua oral, como na escrita literária. Todavia, com a Independência do Brasil em 1822, passou-se a valorizar tudo o que nos distanciasse de Portugal. Com o Romantismo, toma vulto a questão da língua brasileira, que reivindicava para o Brasil uma língua própria.
A segunda metade do século XIX conheceria ainda a chegada dos imigrantes italianos e alemães. No início do século XX, o Modernismo (1922) novamente proporia a questão da língua brasileira, associado à oralidade da língua, à diferença entre língua escrita e língua falada. Como recebeu muitas contribuições, a língua nacional é o português brasileiro, uma língua que alcançou independência linguística e cultural em relação a Portugal. Assim, pelos fatos apresentados verifica-se que o percurso da língua portuguesa em Portugal e no Brasil é muito diverso. Embora a língua de portugueses e a de brasileiros utilizem o mesmo código linguístico e o mesmo sistema, elas apresentam diferenças na norma usual (uso).
Bortoni-Ricardo e Rocha (In: MARTINS; VIEIRA; TAVARES, 2014, p. 37-38) entendem que
o português do Brasil é uma língua transplantada e, como tal, tende a ser mais conservadora que a língua no seu nascedouro. Comparada ao português europeu, as variedades brasileiras são faladas com ritmo relativamente mais lento, que alguns estudiosos consideram uma preservação de um traço arcaico do português. O gramático pioneiro Fernão de Oliveira, descrevendo a língua falada em Lisboa no século XVI, disse: “mas nós falamos com grande repouso, como homens assentados”. Silva Neto, Mattoso Camara e Naro referem-se a profundas mudanças fonéticas no português da metrópole, ocorridas no último quartel do século XVII e no primeiro do século XVIII, que teriam conferido à língua um ritmo em allegro. Essas mudanças não chegaram ao Brasil, ou pelo menos não chegaram de forma consistente e generalizada no repertório dos colonizadores ao longo dos primeiros séculos de colonização e não se consolidaram aqui. Ademais, os colonos provinham de diferentes regiões na metrópole, e, portanto, em seu repertório linguístico, as mudanças em curso estavam em estágios distintos. Ao se encontrarem no Brasil, esses repertórios tenderam a um amálgama mais conservador em prejuízo das novas variantes.
Para Andrade e Medeiros (1997, p. 43),
o português do Brasil atual apresenta traços conservadores e inovadores. Os conservadores são notados, principalmente, nas linguagens regionais, que preservam arcaísmos e formas desusadas até nas linguagens regionais de Portugal. Os estudiosos do assunto afirmam que há, nas linguagens regionais do Brasil, um substrato comum do português do século XVII.
As inovações correm por conta das linguagens urbanas, fortemente influenciadas pelos meios de comunicação, por isso mais abertas aos processos de transformação, e da linguagem literária. Quanto às diferenças da norma escrita e falada no Brasil e em Portugal, podem ser apontadas distinções em vários níveis: fonético e fonológico; morfológico e sintático e, sobretudo, no vocabulário.
Considerando a diferença entre a língua portuguesa falada em Portugal e a falada no Brasil, destaca-se que a prosódia portuguesa difere bastante da que vigora por aqui. Enquanto os brasileiros falam morrer, correr,bondade, forçoso, corado, os portugueses falam murrer, currer, bundade, furçoso, curado. Portugueses suprimem vogais mediais: c’roa (coroa), impr’ador (imperador); brasileiros usam /e/ e /o/ fechados em Antônio, demônio, gênio; portugueses falam: António, demónio, génio.
Em Portugal, morfologicamente falando, é comum madeiro, lenho, horto, fruto, enquanto no Brasil prevalece madeira, lenha, horta, fruta. Há diferenças também num e noutro país em relação ao uso de diminutivos. Em Portugal, fala-se dormindinho, saudezinha, pueirama, oirama. Os brasileiros preferem o gerúndio no lugar de infinitivo regido de preposição, como em estava a redigir, chegou a falar, está a dormir, que são comuns em Portugal, e estava redigindo, chegou falando, está dormindo, que são comuns no Brasil.
Na sintaxe, a colocação pronominal tem sido campeã de discussões. Enquanto portugueses preferem a ênclise (diga-me), os brasileiros gostam da próclise (me diga).
No vocabulário, difere bastante a língua falada aqui e lá:
Brasil |
Portugal |
Bala |
Confeito |
Banheiro |
Casa de banhos |
Calcinha |
Cueca |
Carona |
Boleia |
Carpete |
Alcatifa |
Chiclete |
Pastilha
elástica |
Crianças |
Putos |
Goleiro |
Guarda-redes |
Moça |
Rapariga |
Ônibus |
Autocarro |
Pernilongo |
Melga |
Trem |
Comboio |
Xícara |
Chávena |
Top esse assunto, esse conjunto de normas e regras linguísticas, compreende variações diversas,a forma de se expressar e preservar a cultura de cada região.
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